Surge
no Rio de Janeiro, no final da década de 1930, a Santa
Hermandad Orquídea. O grupo embarca para o Amazonas e segue
viagem pela América do Sul.
No
Teatro Municipal de Lima, capital do Peru, Abdias assiste ao espetáculo
O imperador Jones, de Eugene O'Neill. O ator branco Hugo D'Evieri
é pintado de preto para fazer o papel principal. Para Abdias,
um ator branco fazendo o protagonista negro simboliza o racismo
que permeia o teatro não apenas ali em Lima, mas no teatro
ocidental. Decide então criar, na volta ao seu país,
um teatro negro, como forma de denunciar e lutar contra o racismo
e valorizar a cultura de origem africana.
Durante
um ano em Buenos Aires, Abdias freqüenta o Teatro Del Pueblo,
extensa e forte vivência de teatro-escola experimental.
Regressa ao Brasil pela fronteira de Jaguarão, RS. Ao festejar
a volta em um clube modesto, é proibido de dançar
por ser "de cor baixa".
Chegando
a São Paulo, condenado à revelia pela resistência
anterior ao racismo, é preso por dois anos na penitenciária
de Carandiru. Cria, dentro da prisão, o Teatro do Sentenciado.
Os detentos escrevem e encenam suas próprias peças,
num exercício de solidariedade e vanguarda.
Seu
primeiro teste como organizador de teatro se dá na busca
de liberdade.
O
Teatro Experimental do Negro visa reabilitar e valorizar a identidade,
a herança cultural e a dignidade humana do afrodescendente.
Une a atuação política à afirmação
da cultura de origem africana, representando um avanço
na luta contra o racismo no século XX. Oferece cursos de
alfabetização e cultura geral e organiza eventos,
como o 1° Congresso do Negro Brasileiro (1950). Cria o Comitê
Democrático Afro-Brasileiro em 1945. Advoga direitos trabalhistas
para a empregada doméstica e políticas públicas
afirmativas para a população afrodescendente.
Promove
a inclusão do ator, diretor e autor negros num teatro brasileiro,
onde a norma era brochar de preto o ator branco quando houvesse
um protagonista negro. Revela o potencial cênico dos heróis
negros e da epopéia afro-brasileira, até então
excluídos da dramaturgia nacional. Realiza concursos de
beleza e atua nas artes plásticas com o propósito
de incluir a mulher e a arte negras no conceito estético
brasileiro.
A
qualidade artística de suas realizações atrai
a colaboração de intelectuais e artistas destacados,
brancos e negros.